Os famosos almendrones, carros americanos dos anos 1950 |
O bicitaxi é um dos meios de transporte de Havana |
Fachadas dos sobrados em Habana Vieja |
Catador em ruela de comércio no centro da cidade |
Avenidas largas e com poucas árvores |
Gran Teatro de La Habana Alicia Alonso |
Capitólio |
Um aviso deve ser dado. Mesmo na área mais turística, chamada Habana Vieja, é preciso estar preparado. Há muita decadência, muitos prédios literalmente caindo aos pedaços, e a sensação de penúria é inevitável. Mais de 50 anos de embargo econômico e campanhas contra a “Ilha de Fidel” deixaram, sim, muito estrago. Na paisagem e nas pessoas. O preço pago pela soberania e o direito de escrever sua própria história fez de Cuba um país muito pobre e, dos cubanos, um povo ao mesmo tempo acostumado a dividir o pouco que tem e cansado de esperar por tempos melhores.
Habana Vieja |
Mas bem além da aparência da cidade e dos cubanos, o que desafia
o turista, em Cuba, é entender o que pensa o povo, como ele vive e o que espera
do futuro. Vinte e poucos anos depois do “período especial”, quando o campo
socialista caiu e Cuba perdeu a ajuda internacional e o país viveu uma de suas
piores crises econômicas na história, os cubanos ainda têm muitas carências
materiais e não é raro ser abordado na rua por alguém pedindo “um sabonete, um
xampu”. As indústrias que ainda resistem têm dificuldades financeiras
para atualizar seus maquinários e os profissionais altamente qualificados que
saem das excelentes universidades cubanas não têm emprego à sua altura e sonham
em sair do país.
O serviço público, ainda hoje única opção de trabalho para
muitos cubanos, remunera muito mal, cerca de 18 dólares/mês, e não oferece
chances de ascensão profissional. Carlos Castillo, doutor em engenharia nuclear
e alto funcionário da empresa cubana de energia, desabafa: “Amo meu país e
minha profissão, mas ganho menos que um porteiro de um grande hotel, que recebe
gorjetas em dólares. E sei que isso nunca vai mudar. É muito difícil”, diz.
"Quem já tem uma certa idade não se arrisca a sair, mas os jovens querem ir embora tão logo se tornam profissionais. Aqui eles não têm chance de crescer e de ter uma vida melhor", concorda Alba Martinez, engenheira química que há vinte anos abandonou sua profissão para administrar o aluguel de quartos para turistas.
"Eu não sairia daqui se os salários fossem melhores", opina Leo Sanchez, aposentado. "Passamos por dificuldades, mas há trabalho para todos, nos campos, na agricultura. Quem realmente precisar, tem onde trabalhar", defende. Segundo Leo, os que criticam o governo são chamados de "gusanos", que significa "verme", pois "se arrastam aos pés dos inimigos norte-americanos". "E nos parecemos muito com os brasileiros, nossa alma, nossa cultura. Aliás, os cubanos amam as telenovelas brasileiras", conta Leo.
"Quem já tem uma certa idade não se arrisca a sair, mas os jovens querem ir embora tão logo se tornam profissionais. Aqui eles não têm chance de crescer e de ter uma vida melhor", concorda Alba Martinez, engenheira química que há vinte anos abandonou sua profissão para administrar o aluguel de quartos para turistas.
"Eu não sairia daqui se os salários fossem melhores", opina Leo Sanchez, aposentado. "Passamos por dificuldades, mas há trabalho para todos, nos campos, na agricultura. Quem realmente precisar, tem onde trabalhar", defende. Segundo Leo, os que criticam o governo são chamados de "gusanos", que significa "verme", pois "se arrastam aos pés dos inimigos norte-americanos". "E nos parecemos muito com os brasileiros, nossa alma, nossa cultura. Aliás, os cubanos amam as telenovelas brasileiras", conta Leo.
Por mais que existam semelhanças entre as culturas de Cuba e
do Brasil, não há como um visitante não se sentir estrangeiro na ilha de Fidel.
As diferenças entre o que vale para o nativo e o que vale para o turista começam
pelas duas moedas em circulação no país, o peso cubano e o peso convertível. A primeira,
conhecida por CUP, vale 24 vezes menos que a moeda convertível, por sua vez
chamada de CUC, e que vale 1 dólar. Assim, há lojas para cubanos e lojas para
turistas, restaurantes para cubanos e restaurantes para turistas, farmácias
para uns e outros e por aí vai. Tudo, sem exceção, diferindo em preço e em
qualidade. Os restaurantes para cubanos, por exemplo, em geral não têm nem mesa,
o cliente come no balcão mesmo. Já os exclusivos para quem paga em CUC são
caríssimos e podem chegar a ser extremamente luxuosos.
Apesar de todas essas diferenças – uma espécie de apartheid
entre cubanos e turistas –, quase não existe violência em Cuba. Não se ouve
falar em assaltos ou agressões. O ensino é obrigatório até o secundário, e
gratuito até a universidade. O sistema de saúde, reconhecido no mundo todo, garante
à população atendimento médico e medicamentos por toda a vida. Crianças e
idosos merecem atenção especial, sendo amparados pelo Estado em suas
necessidades.
Percebe-se, numa rápida conversa com qualquer cubano, o
nível de escolaridade e de informação que têm os moradores daquele país, em
geral abertos e simpáticos. Ao puxar conversa, seja numa praça ou num táxi,
prepare-se para muita conversa e não se surpreenda se o cubano estiver a par,
com detalhes, da situação política de nosso país. Apesar de todas as limitações
impostas por uma imprensa de pensamento único e do acesso ainda restrito à
internet, eles são muito bem informados.
Aos domingos a diversão é acessar a internet na praça |
Outdoors lembram as lições socialistas |
A Revolução, que é lembrada dia a dia há 58 anos por meio
dos outdoors espalhados pelo país com frases de efeito e fotos dos líderes, é
também o assunto mais falado no território, já que todos os visitantes querem
saber e os cubanos, invariavelmente, gostam de dar seu ponto de vista. Há
muitos que aplaudem, e muitos que querem o fim o regime. Há os que se orgulham
da ideologia revolucionária e há os que sonham com uma vida mais farta e próspera.
Consenso é uma palavra cara aos cubanos. Mas uma coisa é certa: o exemplo de
resistência, a capacidade de criar soluções e o espírito de solidariedade incutido
naquela cultura devem sobreviver aos tempos e aos vendavais que venham adiante.
ROTEIRO PARA TURISTAS
Se você pretende fugir do esquema hotel/Cuba pra inglês ver,
minha sugestão é alugar um lugar na casa de um cubano, ou até a casa toda.
Fiquei com mais quatro pessoas numa casa simples, mas suficientemente confortável (dois
quartos, dois banheiros, sala e cozinha, banho quente, ar-condicionado,
televisão, telefone, fogão e geladeira) num lugar bem próximo da Praça da
Revolução, de onde saem ônibus de turismo, cocotáxi etc. Pagamos 50 CUCs por
dia (o que dava 10 pra cada, equivalente a 10 dólares) pela hospedagem e mais 5
CUCs por dia pelo café da manhã. O legal não era nem o café da manhã em si,
bastante bom também, com frutas, pão, queijo, ovos, leite, café e suco, mas a
companhia do casal que administra a casa e que vinha pessoalmente fazer o
“desayuno”. Eles são engenheiros químicos aposentados e adoram conversar e
falar sobre a vida em Cuba (Leo é defensor do regime. Alba, que é sua cunhada, é mais crítica. O
embate entre eles é bem instrutivo).
Alba e Leo
O e-mail é albamarodriguez@yahoo.es e o telefone 53 7 7878 5292
Dica 1: O visto
pode ser tirado no consulado (SP), na embaixada (BSB) ou no check-in da Copa
Airlines no aeroporto do Panamá, tranquilamente, pelo valor de 20 dólares (todo
mundo avisa pra levar já trocado porque eles não têm troco). É só dizer que
quer comprar a tarjeta de turista e eles entregam na hora.
Dica 2: Leve
euros. Troque na casa de câmbio do aeroporto mesmo. Lembre-se que em Cuba
existem duas moedas: O CUC (cê u cê), ou peso convertible, é usado por turistas
e equivale a 1 dólar. O CUP, peso cubano, ou moneda nacional, vale 24 vezes
menos que o CUC.
Dica 3: Peça
desconto sempre. Eles dão.
Dica 4: Quase
todos os táxis, cocotáxis, bicitáxis negociam o preço da corrida antes, não têm
taxímetro. É bom sempre tentar um desconto, porque eles têm mania de
superfaturar. E há um mito de que o número 10 é mágico. “Tudo custa 10 CUCs”!
Dica 5: Leve band-aid para o caso de um arranhão ou calo, e um kit de primeiras necessidades. Em Cuba não existe uma farmácia atrás da outra e para tudo se exige receita médica. Ah, não se encontra adoçante em Cuba, nem mesmo nos cafés e restaurantes.
Dica 6: Tenha sempre à mão umas moedas de pouco valor. Nos banheiros de locais públicos e também nos privados pede-se uma moeda para se ter acesso ao papel higiênico.
Dica 5: Leve band-aid para o caso de um arranhão ou calo, e um kit de primeiras necessidades. Em Cuba não existe uma farmácia atrás da outra e para tudo se exige receita médica. Ah, não se encontra adoçante em Cuba, nem mesmo nos cafés e restaurantes.
Dica 6: Tenha sempre à mão umas moedas de pouco valor. Nos banheiros de locais públicos e também nos privados pede-se uma moeda para se ter acesso ao papel higiênico.
Buena Vista Social Club, imperdível |
Lugares para visitar:
Plaza de La
Revolución
Parque Central
Sempre tem músicos e dançarinos de rua se apresentando.
Pode-se descer do turisbus ali e ver, além do monumento a José Martí, o
Capitólio e o Gran Teatro de Havana, que é belíssimo (todos dois estavam
fechados pra visitação quando estive lá). Na frente do Capitólio tem um
restaurante muito bom, o D´Lírios, onde se pode comer um delicioso camarão por
8,50 dólares (14 dólares com suco, sobremesa e café).
Todos dançam na praça |
Fábrica de Artes
Cubana (FAC)
Só funciona à noite. Custa 2 CUCs pra entrar e lá dentro tem
vários ambientes, de música, cinema, fotografia, artes plásticas, moda, bares,
boates. Super legal!!!!
Bodeguita del Medio
Bodeguita del Medio |
Museo de La
Revolución
Eu achei fantástico porque é como entrar num museu em
1960/70. Tecnologia é zero, nem ar-condicionado tem! As instalações são bem
daquela época, com expositores de vidro com fotos antigas se estragando pelo
tempo e letreiros com fontes enormes. Ao mesmo tempo tem um acervo riquíssimo
com os registros de todos os passos desde que a Revolução começou a ser pensada
até depois de instalada. Anexo tem o Memorial Granma, onde também estava
fechado para visitação o iate que levou os guerrilheiros do México para Cuba.
Museo de Bellas Artes
Ao lado do Museo de la Revolución. Eu adorei o segundo
andar, de arte moderna.
Plaza de las Armas
Fui no sábado pela hora do almoço e achei muito agradável.
Tem uma feira de livros antigos e antiguidades, muitos restaurantes com música
ao vivo e movimentação de artistas de rua. Prepare-se para enjoar de ouvir "Guantanamera".
Plaza Vieja
Praça ampla com restaurantes e cafés. Procure ali a “cámera
oscura”, que fica num prédio de esquina. Paga-se 2 CUCs pra subir ao 8º andar.
Lá de cima se tem uma vista de 360 graus da cidade e ainda se tem uma
apresentação da tal câmera escura, que é um instrumento criado por Leonardo Da
Vinci e que é como uma câmera ao vivo e com um zoom gigante mostrando vários
pontos de Havana. A Plaza também é um bom ponto de partida para um giro a pé
pela Habana Vieja.
Plaza Vieja vista do alto do prédio da Cámara Oscura |
Feria de San Jose (o
Mercado de São José de lá)
Bom lugar pra comprar artesanato e lembrancinhas. Bem ao
lado fica a Cerveceria, ou Fábrica de Cerveja, que também é um restaurante, à
beira do Malecón, onde se almoça bem por um preço razoável.
Artesanato na Feira de San José
|
Che é figura bem vendida em Havana |
Hotel Nacional de
Cuba
Além de apreciar o luxo da Cuba de 1930, ano de sua
fundação, no Hotel Nacional pode-se visitar um antigo bunker da época da crise
dos mísseis, por volta de 1962, quando o país viveu a ameaça de um ataque
nuclear. Um senhor de idade trabalha como voluntário ali, servindo de guia para
os visitantes. Uma aula!
Castillo de los Trés
Reyes del Moro e Fortaleza de Carlos III de La Cabaña
São dois fortes que ficam do outro lado da baía (tem-se que
atravessar um túnel debaixo do mar) e de onde se tem uma bela vista de Havana.
Ali acontece uma cerimônia besta do “cañonazo”, diariamente às nove da noite. O
legal é chegar no fim do dia (em maio só anoitece lá pelas 7 e meia da noite)
pra ver o pôr do sol no mar do Caribe. Tem uma feirinha de artesanato e uns
museus de guerra pra quem gosta de ver armas. A cerimônia em si dura uns quinze
minutos e não tem muita graça.
Callejón de Hamel
É uma comunidade afro (uma rua, na verdade), onde aos
domingos acontecem apresentações de rumbeiros e outras manifestações culturais.
Mas diariamente se pode visitar e ver uma decoração exótica cheia de esculturas
feitas com material reciclado, bares, barracas de venda de ervas e guias do
candomblé, pinturas africanas e comércio de artigos cubanos. Os moradores, e os
vendedores que cercam o turista o tempo todo, dizem que toda a renda é pra uma
escola que têm na comunidade.
Embaixada americana e
Tribuna Anti-imperialista
A embaixada americana fica em plena orla do Malecón. Ali,
além de filas de cubanos esperando para solicitar visto, pode-se ver o Monte
das Bandeiras, bem em frente ao prédio ianque. São 165 mastros gigantes
instalados pelo governo da ilha para barrar a visão de um letreiro eletrônico onde
os americanos veiculavam, no alto da embaixada, propaganda
contrarevolucionária. Os mastros, hoje com apenas uma bandeira de Cuba, eram enfeitados
com bandeiras pretas em sinal de protesto. Na frente do Monte das Bandeiras foi
construído, ainda, a Tribuna Anti-imperialista, que é uma estrutura de ferro, como
um palco, onde eram realizadas discussões políticas e até hoje acontecem
eventos culturais.
Cenas das comemorações do 1 de Maio de 2016:
Cocotáxi |
Havana vista do interior de um almendrón |
Crianças fazem pose para os turistas |
Cenas de rua |
Vendedora de... |
Cenas das comemorações do 1 de Maio de 2016:
Meus outros blogues de viagem são:
serradacapivara2016.blogspot.com
mexicotimtimportimtim.blogspot.com
santiagodochileparainiciantes.blogspot.com